quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O Reatamento

Punta Del Este, a encantadora praia uruguaia. Feriadão de sete de setembro. Um fim de semana perfeito. Perfeito para reatar. Atar de novo. Continuar o que se tinha interrompido.
Lá estávamos, maratona e eu. Eram oito e vinte da manhã de 6 de setembro quando a contagem regressiva chegava ao número zero. Fora dada largada para 2a Maratona de Punta Del Este. Que, apesar de jovem, incorporou o charme da cidade, com sua arquitetura famosa, seus telhados de santa fé, seus terrenos sem muros e a tradicional hospitalidade do povo uruguaio.
Partimos abraçados. Devagar, contando os passos. Quietos, ainda ressentidos dos momentos anteriores. Eu, muito arrependido e já me considerando perdoado. Ela na espectativa do porvir. Mas, traição não se resolve assim com um simples entre laço ou aperto de mão.
A paisagem cada vez mais se deslumbrava aos nossos olhos. As maravilhosas casas no mais autêntico estilo inglês e californiano desfilavam a nosso lado. Os impecáveis jardins transpiravam odores. O sistema aeróbio agradecia. Até uma zona rural apareceu. E nós, ainda quietos, abraçados. A ponte em estilo senoidal apareceu no quilômetro quatorze. Quebramos o silêncio. Eu reclamei do sobe e desce. Ela não gostou. Afastou-se de mim. Foi para o meio fio oposto. Um momento de tensão.
As dunas, a praia, o mar e o sol apareceram a partir do quilômetro quinze. Era o clima ideal. Chegamos a trocar olhares quase apaixonados. Porém, o tapete e o relógio eletrônico na marca da meia desviaram nossa atenção: 2 horas e 10 minutos havia se passado. E, entre nós, quase nada. Tive que parar para aquelas necessidades fisiológicas. Nada de mais. Sempre acontece. Acho que ela não aprovou. Ficou séria. Calada. Quando elas se calam, nunca se sabe o que virá pela frente. Dito e feito. Veio com tudo. Era o quilômetro vinte e cinco, penso eu. Não vi bem. A paulada foi feia. Bem na minha artrose. Lesão que cultivo desde jovem, na época que era metido a futebolista. Poderia ter sido noutro lugar. Mas, ela me conhece muito bem. A vingança foi bem articulada. Nestas horas é melhor não dizer nada. Fiquei esperando o tempo passar. Sabia que no quilômetro vinte e oito teria o apoio da família, independentemente de seu consentimento.
Passamos pelo famoso cassino, lá onde alguns têm breves momentos de prazer. E o nosso era de dor. Mas, a dor de amor se resolve. Devagar. Com jeito. De mansinho. Foi o que fiz. Fui, aos poucos, com uma leve conversa ao pé do ouvido, trazendo-a para meu lado. No quilômetro quarenta estávamos novamente apaixonados. Parecíamos um jovem casal. A emoção era tanta que esqueci pegar a bandeira brasileira para homenagear a pátria na hora da chegada. Depois de 4 horas e 54 minutos muito conturbados, reatamos nosso enlace. Para finalizar, convidei-a para dançar um tango em Buenos Aires dia 11 de outubro.