quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Tributo à La Negra

Buenos Aires, 11 de outubro, depois de um temporal noturno, uma fina chuva acordava a cidade. Uma cidade em dicotomia. Uns discutindo a capacidade de Maradona dirigir a seleção nacional. Outros, ainda consternados com a morte de Mercedes.
Eram dez mil pessoas amontoadas esperando a largada para Maratón Internacional de Buenos Aires, impecavelmente organizada pelo Gobierno de La Ciudad e Fundación Ñandú com patrocínio de Adidas.
Havia convidado Maratona a bailar um tango nesta data. Ela não recusou o convite. Mas, o momento não era propício para danças tão sensuais. Limitamo-nos a sair a passo lento, sem floreios e com discernimento. Meu filho Rafael, que namora uma “chica” de 21 km, acompanhou-nos.
A conversa entre pai e filho rolou do Palermo, passando pela Recoleta e foi até o km 8. Ali, uma breve despedida e desejos de boa sorte em seus respectivos caminhos. Um pouco antes, um casal dançava um tango. Maratona virou a cara. Alguma coisa a incomodava.
Entramos na Rua 25 de Maio, dia que comemora a Revolução de Maio de 1810, e dobramos na Tucumán. Logo a seguir, o km 10 e o indispensável apoio familiar. Maratona cada vez mais quieta e inquieta. Seguimos nesta rua até a esquina da Avenida 9 de Julho, dia da Independência. Maratona me cutuca. Mercedes Sosa nasceu em Tucumán, cidade ao norte do país, no dia 9 de julho. A emoção, que nasce na alma vai ao cérebro e se espalha pelo corpo, tomou conta de mim. Uma esquina despercebida, ainda misteriosa. Por certo num futuro famosa.
A partir dali, Maratona e eu começamos a render nossas homenagens à diva do folclore latino americano. Sentíamos sua voz grave e forte ecoando naquele domingo na larga e principal avenida da capital portenha. Até o Obelisco parecia tremer.
Entramos à esquerda na Avenida Corrientes e para que não dançássemos a media luz, dobramos antes do número 348. Chegamos à Plaza de Maio, onde as Madres não estavam. Talvez em respeito à grande madre cantora.
Demos Gracias a La Vida na Avenida Paseo Colón no km 14. Fomos a La Boca. Lá, Si Se Calla El Cantor ao invés de Caminito. Entramos na ilha. Já era o km 21 e o relógio oficial marcava 2:17:11. Da minha cabeça o som de Dale Alegria a Mi Corazon embalava minhas pernas.
O Porto Madero chegou ao km 28. Muitos já caminhavam. Lembrei-me de Canción Con Todos, e a pergunta de sempre: o que nos leva todos reunidos a estarmos ali, exauridos?
Na Avenida Comodoro Py, o km 30. Maratona recordava Hermano Dame Tu Mano. Eu, Solo Le Pido a Dios, que todos terminem bem. E fomos no Inconciente Colectivo até o lago em Palermo. Era o km 39.
Fiz os últimos metros com a bandeira brasileira tremulando. Senti-me como representante de nosso país neste tributo silencioso de quatro horas e quarenta e quatro minutos à LA NEGRA.

2 comentários:

  1. Congratulações, prezado amigo. Precisas instalar um rotâmetro neste blog para contabilizar tantas maratonas completadas. Principalmente estas internacionais. Parabéns por mais uma brilhante conclusão. Abc, Ivo.

    ResponderExcluir
  2. CHICO, que lindo o que tu escreveste! Fiquei tri emocionada! Realmente mereces o prêmio literário que irás receber. PARABÈNS!!!!!
    Beijos, Vânia.

    ResponderExcluir